Quantas e quantas vezes ouvi amigos, que moram em São Paulo há tantos
anos, desejando largar a cidade de vez e partir para uma vida mais
tranquila e saudável em outro canto do País ou do mundo. Quem é de São
Paulo sabe o quanto essa cidade pode ser apaixonante e, ao mesmo tempo,
insuportável.
Esse é o dilema da maioria dos paulistanos que, cá pra nós, não deve
bater muito bem da cabeça (assim como eu). São Paulo encanta não pela
beleza, mas pelo que ela é capaz de proporcionar. Aí que entra o meu
lado positivo da bipolaridade típica de um paulistano.
Como não amar a agenda cultural da cidade, os bairros típicos e a
variedade de restaurantes? Em boa parte de minha vida eu aprendi a
aproveitar a cidade apenas nos finais de semana, mas o segredo para
alcançar uma boa qualidade de vida nessa metrópole é não desperdiçar os
dias úteis.
Sim, é possível aproveitar um bom cinema ou uma amostra cultural numa
segunda-feira. Não deixe para levar o seu companheiro ou companheira
àquele restaurante refinado apenas no final de semana. Deixe de ser tão
paulistano e fuja das filas, apesar de que, em alguns casos, elas sempre
estarão lá.
Morar em São Paulo e não viver o que a cidade tem a oferecer de bom é
triste, pois ela também é capaz de oferecer muita coisa ruim. Muitas
vezes inevitáveis, como o trânsito caótico e a poluição sufocante dos
meses de inverno.
Apesar de ter nascido em São Paulo, eu demorei mais de uma década
para conhecer o Parque do Ibirapuera, mais de 20 anos para ir ao
autódromo de Interlagos ou para conhecer o Parque da Independência.
Mas como eu disse no início dessa carta de amor e ódio a esta cidade,
São Paulo pode ser insuportável, mas temos que tratá-la bem, apesar de
seus defeitos. O trânsito suga nossas energias, o cheiro insuportável
dos rios Tietê e Pinheiros no deixa mais tristes e a violência pode
assustar. Esse tipo de coisa faz com pensemos com frequência naquela
ideia fixa: “chegou a hora de deixar essa cidade”.
Muitas vezes, como em um relacionamento, é bom dar um tempo – como já
o fiz por nove anos. Mas, se o amor for verdadeiro, sempre voltamos.
Viver em São Paulo é assim, descobrir a cada dia que passa uma nova
virtude ou um novo defeito. É praticamente um casamento, onde os dois
lados precisam se esforçar para que a convivência seja perfeita.
Viva o que São Paulo tem de bom e tente mudar o que ela tem de ruim, pois nem tudo está perdido, acredite.
Parabéns São Paulo, pelos seus 460 anos de vida.
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