Supervisora local da entidade, Andressa Ben, revela o motivo do fechamento
da unidade no município
SERRANOSSA – Por que o Imama vai encerrar as atividades em Bento?
Andressa Ben – Há pouco mais de dois anos, nós estamos
passamos por uma situação financeira difícil. Trabalhávamos com projetos
na busca de recursos, através do Poder Público e do empresariado. Mesmo
prestando um serviço em prol da população de Bento, nós não recebíamos
auxílio financeiro da prefeitura, que havia apenas cedido uma
funcionária. A unidade central do Imama de Porto Alegre, à qual somos
vinculados, deixava de investir em projetos lá para investir aqui.
Algumas pessoas falavam, inclusive, que nós estávamos devendo, o que não
é verdade. Sempre tivemos o Imama bancando as nossas despesas. Então,
chegou um momento em que a central de Porto Alegre achou por bem
encerrar as atividades no município, principalmente por não haver uma
contrapartida do Poder Público. Oferecemos serviços para a comunidade,
mas não recebemos para continuar trabalhando.
SERRANOSSA – Que serviços eram oferecidos pelo Imama?
Andressa – Trabalhávamos com educação e reabilitação. Na
educação, promovíamos palestras e sensibilizações ao autocuidado em toda
a Serra Gaúcha. Já a reabilitação ocorria quando a paciente já havia
sido diagnosticada e oferecíamos apoio durante e após a doença. Tínhamos
tratamento psicológico para pacientes e familiares, grupos terapêuticos
que eram conduzidos por duas profissionais, além do grupo de autoajuda,
direcionado principalmente a mulheres que perderam todo o cabelo, parte
ou toda a mama. Oferecíamos fisioterapia em consultórios parceiros,
nutricionista e serviços como empréstimo de perucas, lenços e chapéus,
além de uma biblioteca com cerca de 150 volumes e parceria com médicos
que encaminhavam exames com descontos especiais.
SERRRANOSSA – Quantas mulheres vocês auxiliaram em Bento?
Andressa – Não tenho como precisar quantas foram atendidas em
11 anos de história. Mas, desde que assumi a supervisão desta unidade,
há quatro anos, uma média de 35 a 40 mulheres por mês recebiam
tratamento. Em relação à educação, esse número é maior e depende da
quantidade de palestras e visitações sensibilização que foram feitas,
mas, por ano, isso resulta em uma média de 14 mil pessoas atingidas.
SERRANOSSA – E o Imama já encerrou definitivamente as atividades?
Andressa – Estamos encerrando. Chamamos as orientadoras de
grupos e as pacientes para explicar e comunicar. Tudo será encerrado até
o final deste mês.
SERRANOSSA – As pacientes do Imama estão sendo encaminhadas para outras entidades?
Andressa – Não, pois não temos conhecimento da existência de outra entidade que trabalhe da mesma forma que o Imama.
SERRANOSSA – Vocês receberam recursos financeiros da prefeitura?
Andressa – Nos primeiros anos da entidade em Bento, havia
auxílio público. Na verdade, paramos de receber assim que ocorreram as
denúncias no final da gestão do ex-prefeito Lunelli. Depois, nunca mais.
A atual gestão alegou que a pasta da saúde não libera para outras
entidades os recursos que são próprios para hospital e postos de saúde,
por exemplo.
SERRANOSSA – Depois disso,as despesas foram mantidas apenas com dinheiro do Imama de Porto Alegre?
Andressa – Tínhamos projetos aqui em Bento Gonçalves com
algumas empresas, como Todeschini, Cinex, Fetransul, Bertolini, entre
outras, mas os valores não chegavam a cobrir nem 50% das despesas da
entidade.
SERRANOSSA – De quanto o Imama precisaria para manter as portas abertas na cidade?
Andressa – A manutenção administrativa básica por ano é de R$
60 mil, cerca de R$ 5 mil por mês. Isso sem colocar na soma as diversas
iniciativas que gostaríamos de desenvolver na cidade, como os projetos
Vitoriosas e Navegantes, que são maravilhosos e que nunca conseguimos
implantar aqui. Mas com recursos para se manter, é mais fácil arrecadar
dinheiro para um projeto específico.
SERRANOSSA – Depois que vocês anunciaram o fim das atividades, alguém procurou a entidade para oferecer ajuda?
Andressa – Não. Isso é bem triste e nem gosto de falar sobre o
assunto. Mas é a pura verdade. Fomos procurados somente por pessoas da
comunidade. A gente entrou em contato com a prefeitura, para comunicar o
fechamento e também buscar uma solução. Conversei com o secretário de
Governo, Enio de Paris, que ficou de nos dar uma posição, mas ainda não
obtivemos um retorno. O prefeito não pôde nos receber devido aos
problemas em relação ao presídio.
SERRANOSSA – De alguma forma, você tem esperança que o Imama continue em Bento?
Andressa – Eu acho que esperança não seria a palavra certa. O
que eu desejo é que os serviços prestados possam continuar. Porque
manter o Imama aberto não é uma decisão minha e sim do conselho
administrativo geral da entidade. Por isso, gostaria que os atendimentos
continuassem. Inúmeras mulheres irão ficar desamparadas. O Imama era um
espaço onde elas podiam trocar ideias, informações sobre diagnóstico,
sobre tratamentos, sentimentos, enfim. Essa instituição vai fazer muita
falta, principalmente para essas mulheres.
SERRANOSSA – Como você se sente, como pessoa e supervisora da entidade, em relação a isso?
Andressa – É muito difícil. Quando recebi a notícia do
fechamento, fiquei uma semana de “luto”. Não conseguia reagir. Fiquei
pensando nas mulheres que são atendidas. Foi muito triste.
SERRANOSSA – E como as pacientes reagiram?
Andressa – Foi um misto de indignação e tristeza. Foi isso que
sentimos. Claro que contamos com apoio de profissionais na área de
psicologia para ajudar na comunicação, mas mesmo assim não foi fácil.
Algumas com raiva, outras muito tristes, pois dependiam desse apoio e
amparo para suas vidas. Só tenho a lamentar e torcer para que ocorra
algo bom para todas elas.
O SERRANOSSA entrou em contato com o secretário de Governo, que afirmou que o município está em tratativas para reverter a situação através de verbas da secretaria de Habitação e Assistência Social. O pronunciamento da prefeitura, segundo ele, deve ocorrer em breve.
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