Para tentar reduzir os casos de cães e gatos abandonados nas ruas no
município, a Organização Não Governamental (ONG) Patas e Focinhos deve
apresentar, até setembro, um projeto para assumir, em parceria com a
prefeitura, a causa em Bento Gonçalves. A intenção da entidade é cobrar
do Poder Público a implantação de uma estrutura para agilizar os
procedimentos de castração e cuidados aos animais que necessitem auxílio
veterinário. Em contrapartida, os voluntários, além de gerenciarem o
novo sistema, se dispõem a reforçar as ações de resgate e entrega para
adoção dos bichos que não tiverem lar ou se encontrarem em más condições
de saúde.
Em reunião realizada no Ministério Público (MP) no início de agosto,
representantes da entidade reivindicaram da administração municipal
medidas para amenizar o problema em Bento Gonçalves. Como receberam a
resposta de que o Executivo dificilmente conseguiria levar a iniciativa
adiante sozinho, resolveram abraçar o desafio. “Nós cobramos essa
responsabilidade da prefeitura, mas também não podemos ficar apenas
esperando, porque pode demorar muito tempo para que alguma coisa maior
seja feita. O que nós vamos tentar é encurtar esse caminho”, afirma
Cassiana Baldasso Vaz, vice-presidente da ONG, que tem cerca de 30
voluntários ativos.
A proposta da Patas e Focinhos deverá incluir o pedido de um local
para instalar uma pequena clínica onde seriam feitas as esterilizações,
além da contratação, por parte do governo, de pelo menos três
funcionários para trabalhar em turno integral – um veterinário, um
assistente e um atendente. Segundo Cassiana, essa modificação poderia
permitir um número maior de cirurgias do que hoje é realizado por meio
do convênio entre a Vigilância Ambiental e clínicas particulares, que
nesse ano ofereceu cerca de 400 operações (detalhes abaixo). À exceção
de casos que poderiam exigir algum tempo de observação, os animais não
seriam mantidos local. “Não queremos criar um lar para recolhimento,
essa não é a nossa ideia, porque poderia gerar até mais abandono”,
explica.
Lugar para feiras
A ONG também pretende solicitar um espaço fixo para a realização das
feiras de adoção. “Se tivermos essa garantia de um local sempre
disponível, podemos pensar em fazer feiras grandes com mais frequência.
Seria mais fácil de organizar e, com certeza, iria atrair mais pessoas”,
completa a vice-presidente. Entre março e julho deste ano, a entidade
já deu novos donos a 93 cães e 83 gatos. Pelo menos outros 30 cachorros e
20 felinos permanecem em lares temporários esperando por adoção.
Sobre o projeto de instalação de um Centro de Controle de Zoonoses
(CCZ), que chegou a ser discutido nos últimos anos na cidade, Cassiana
diz que é um assunto que praticamente foi descartado com a última
reunião. “O CCZ não vai resolver problemas de superpopulação de cães e
gatos, e muito menos focar no bem-estar dos animais. Felizmente, isso
pareceu ser um ponto pacífico para todos”, conclui a voluntária.
Secretaria aguarda proposta
O secretário de Meio Ambiente, Luiz Augusto Signor – que participou
da reunião no MP no começo do mês –, afirma que aguarda agora a entrega
do projeto da ONG, para avaliar as condições financeiras de atender a
reivindicação e, se necessário, apresentar uma contraproposta à
entidade. Mesmo assim, ele diz que a ação vem em boa hora. “Sabemos que é
uma demanda em que temos que avançar em vários pontos e corrigir
outros. Eu vejo essa iniciativa com bons olhos, porque temos que
melhorar muitas coisas, tanto na parte do Poder Público quanto da
sociedade”, destaca.
Signor ressalta que também será preciso reforçar as medidas de
conscientização daqui para frente, como forma de envolver a comunidade
bento-gonçalvense e cobrar cada vez mais dos donos de animais a posse
responsável. “Não podemos pensar que maus-tratos se resumem apenas a
casos de agressão. Não cuidar de forma adequada ou abandonar um bichinho
de estimação, às vezes, é muito pior. E nós não podemos viver em uma
sociedade de bárbaros que ajam assim”, conclui o secretário.
Vigilância Ambiental realizou 400 castrações no ano
Até o final do mês, a Vigilância Ambiental pretende retomar o
programa de castrações oferecido pela prefeitura. O projeto está
paralisado há cerca de um mês, em função da renovação do edital para
convênio com clínicas particulares que oferecem o serviço. Antes da
suspensão temporária, segundo dados do departamento, foram realizadas
pelo menos 400 operações neste ano, atendendo principalmente a bairros
como Eucaliptos, Vila Nova e Conceição, além de casos repassados por
entidades ligadas à proteção animal.
Duas empresas mantinham contrato com a administração municipal e cada
procedimento tem custado em média R$ 90. Neste valor está incluída a
implantação de um chip com informações dos bichos e dos donos. A
prioridade é para fêmeas de cães e gatos. “Infelizmente, a maioria das
clínicas tem uma clientela particular e não consegue absorver nossa
demanda, que é muito maior”, afirma a coordenadora da Vigilância
Ambiental, Analiz Zattera. O setor tem uma verba anual de R$ 100 mil
para castrações.
Gastos e contatos
Nesta semana, a Patas e Focinhos publicou em sua página no Facebook a
prestação de contas dos gastos da entidade – que tem se mantido por
meio de doações – nos primeiros sete meses do ano. Os custos com
clínicas, lares de passagem e atendimento a denúncias no período somam
quase R$ 33 mil. Somente em julho, foram R$ 7,9 mil. Doações podem ser
feitas pelo Banco do Brasil, na conta 74.908-7, agência 0181-3. O
telefone da ONG é (54) 9160 9015 e o e-mail é
sospatasefocinhos@yahoo.com.br.
Fonte: Jornal SerraNossa - Reportagem: Jorge Bronzato Jr.
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