O rombo nas contas da Previdência Social voltou a crescer de forma
expressiva em 2013. Matéria publicada nesta terça, no jornal O Estado de
S. Paulo, mostra que o déficit chegou a R$ 49,9 bilhões. Os dados foram
obtidos pelo jornal e devem ser divulgados nesta semana. O governo
esperava um "equilíbrio" na comparação com 2012, quando a conta ficou
negativa em R$ 42,3 bilhões.
A surpresa na elevação dos gastos é explicada no governo pelo
pagamento, por decisão judicial, de quase R$ 3 bilhões em passivos
acumulados ao longo de anos anteriores. Pesaram no rombo as revisões do
teto da Previdência, causadas pelos benefícios com reajuste acima da
inflação, e o recálculo de auxílios-doença e aposentadorias por
invalidez cujos beneficiários tinham feito menos de 180 contribuições.
Além disso, a Previdência começou a pagar o estoque da chamada
compensação previdenciária a Estados e municípios, devida entre 1989 e
1999 e até aqui ainda não quitado.
Em um esforço para atenuar esse rombo, a Previdência busca meios para
apertar as regras de concessão de auxílios-doença e invalidez, cujas
despesas atingiram R$ 65,4 bilhões em 2013. O foco é reduzir os auxílios
de longa duração, cuja despesa somaria atualmente R$ 7
bilhões anuais.
Reabilitação
As normas sob avaliação de um grupo interministerial vão incorporar,
segundo informou o Ministério da Previdência, o chamado Plano de
Reabilitação Integral. A partir da recomendação da perícia médica do
INSS, o beneficiário fará uma reabilitação física e profissional
conjunta. A situação seria reavaliada a cada dois anos.
A situação é considerada grave. Do total de benefícios concedidos todo
ano, 18% são por invalidez. O governo quer baixar ao nível "aceitável"
de 10% do total, índice semelhante ao imposto pela União Europeia à
Grécia após a crise que quebrou o país. Mesmo com faixa etária mais
alta, a Grécia tinha 14,5% dos benefícios nessa modalidade até ser
varrida pela crise. Parece possível. O sistema previdenciário dos
servidores públicos da União conseguiu reduzir os auxílios-doença de 30%
do total, em 2004, para 4% no ano passado.
O plano no Regime Geral da Previdência Social (RGPS) é cortar em 40% o
total desses benefícios até 2024, o que resultaria em uma economia de R$
20 bilhões no último ano, em valores nominais. Em uma década, haveria
uma economia de R$ 108 bilhões aos cofres públicos.
Plano
Para ter êxito, após uma determinada cirurgia, por exemplo, o
beneficiário passará a ser acompanhado. Se não for possível voltar à
função original, a empresa indicará outro posto compatível com o salário
e a qualificação, respeitadas limitações físicas e de aptidão.
O governo fará um esforço conjunto de suas áreas para requalificar, via
programas com o Pronatec, e até recolocar o profissional no mercado, a
partir da base de dados do Sistema Nacional de Emprego (Sine). Um grupo
interministerial deve aprovar as regras até março.
Na avaliação do governo, em casos mais graves, seria possível reduzir
os custos aos cofres. Seria pago um auxílio-acidente, benefício de curta
duração e valor bem menor que aposentadorias por invalidez e
auxílios-doença. "Todo mundo ganha. O trabalhador continua a contribuir,
recebe um benefício, ainda que menor, e o soma ao salário", resume o
secretário de Políticas de Previdência, Leonardo Rolim. "O País recupera
um trabalhador e a empresa tem opção de cumprir sua cota reservada a
deficientes." Um projeto piloto começou a funcionar em Porto Alegre e
outro está em estruturação no Rio, segundo o INSS. O exemplo perseguido
pelo governo já foi provado em Piracicaba (SP). O médico perito Rubens
Cenci Motta coordena o programa local de reabilitação integrada.
Quase 90% dos casos potenciais de invalidez e auxílio-doença é tratado
pela abordagem preventiva com alternativas de trabalho adaptado ou
restrito por um grupo multidisciplinar de profissionais, e não apenas
pelos peritos do INSS. Assim, a maior parte dos casos, que implicaria
dois anos de "molho", leva dois ou três meses de afastamento.
Além disso, os juízes trabalhistas passaram a tratar com mais rigor as
empresas que se negam a colaborar com o grupo, fixando punições. "Os
casos são fechados por consenso. É possível fazer em nível nacional, mas
precisa haver parceiros da Previdência", diz Cenci.
* Estadão Conteúdo