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sábado, 22 de março de 2014

Laudo: tiros não saíram do baú da Fiorino

Laudo: tiros não saíram do baú da FiorinoNo último final de semana, dois jovens perderam a vida após perseguição policial em Bento Gonçalves. Muitas perguntas sobre os fatos ainda precisam ser esclarecidas e as respostas para elas deverão aparecer conforme forem sendo divulgados os resultados da perícia e as investigações feitas pela Brigada Militar (BM) e pela Polícia Civil avançarem. Uma análise preliminar aponta para uma infeliz e trágica sequência de acontecimentos.

A história começa horas antes do final fatídico, quando dois jovens decidem sair para se divertir com amigos na localidade de Santa Bárbara, às margens do Rio das Antas. Danúbio Cruz da Costa, de 20 anos de idade, e Anderson Stiburski, 16, foram até o local de moto. A ideia era voltar da mesma forma, mas a moto de um casal de amigos apresentou problemas mecânicos e eles decidiram emprestar a deles e voltar de carona no baú de uma Fiorino dirigida pelo também amigo Tiago de Paula, 18 anos. No banco do caroneiro, um adolescente de 15 anos.

O veículo era emprestado e tem capacidade para transportar somente duas pessoas. O motorista, que tinha Carteira Nacional de Habilitação (CNH) Provisória, estaria infringido uma regra de trânsito por carregar passageiros no compartimento de carga. Essa atitude, somada ao fato de dirigir sob efeito de bebida alcoólica e transitar em alta velocidade, foi decisiva para o trágico desfecho daquela madrugada. Do outro lado, dois policiais sem experiência em confrontos armados (segundo a própria BM), que trabalhavam em rondas ostensivas naquela noite, jamais imaginariam que uma abordagem a um veículo que descumpria a lei terminaria da forma como ocorreu. Um dos poucos pontos em que as versões são semelhantes  é de que houve uma perseguição depois de o motorista da Fiorino desobedecer às ordens de parada feitas pelos policiais.

Ironia do destino

Dois dias antes da abordagem fatal, o 3º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (3º Bpat) havia lançado a “Operação Força-tarefa”, uma ação para mostrar à comunidade bento-gonçalvense que os órgãos de segurança estavam trabalhando para tentar diminuir o alto índice de assassinatos registrado desde o início do ano – o aumento foi de 100% em relação ao ano passado, computado somente o período de 1º de janeiro a 14 de março. Por ironia do destino, as estatísticas só pioraram.

Na tarde de sexta-feira, dia 14, a BM havia efetuado a prisão de dois indivíduos. Com a dupla, foram encontrados dois revólveres calibre 38, sendo um com numeração raspada, e R$ 2 mil em dinheiro. Os indivíduos eram suspeitos de terem roubado uma joalheria de Carlos Barbosa e de terem sequestrado o condutor de um veículo VW/Gol, na ERS-444, no Vale dos Vinhedos.

A pressão do momento, a adrenalina, a inexperiência e uma situação de desobediência dos jovens foram as prováveis causas para que os policiais, com idades de 23 e 29 anos, atirassem pelo menos 10 vezes durante a tentativa de fuga da Fiorino. Eles alegam que só revidaram após terem escutado dois disparos vindos de dentro do veículo. Os ocupantes sobreviventes defendem que nenhum deles tinha arma e que o revólver encontrado posteriormente pelos peritos foi “plantado” no local.

De concreto, sabe-se que a vida das famílias dos jovens que morreram no confronto, dos que sobreviveram e dos policiais envolvidos nunca mais será a mesma. O que chama a atenção é que, segundo informações do comando do 3º Bpat, a conduta da dupla de brigadianos até então era considerada exemplar dentro da corporação. O comandante, major José Paulo Marinho, diz que, pelos relatos obtidos até o momento, não há indícios de que eles tenham agido de forma displicente, pelo contrário: teriam seguido à risca o “manual”. Os jovens, por sua vez, não tinham antecedentes criminais, segundo a Polícia Civil. Primeiros resultados da perícia feita na Fiorino, divulgados na última quinta-feira, dia 20, pelo coordenador da 2ª Coordenadoria Regional do Departamento de Perícias do Interior, Airton Kraemer, de forma preliminar, apontam que disparos não partiram de dentro do baú do veículo. Segundo ele, porém, essa constatação não descarta a possibilidade de que tiros possam ter sido disparados de dentro da cabine.

Resta, agora, juntar provas e relatos para esclarecer algumas perguntas ainda sem respostas: os rapazes realmente atiraram contra a viatura da BM, justificando o revide? Como o revólver foi parar dentro da Fiorino? Havia pólvora nas mãos de algum dos ocupantes que possa evidenciar a ocorrência dos disparos? De alguma maneira os policiais tinham como saber que havia pessoas no compartimento de carga do veículo alvejado? 

Entenda como tudo aconteceu

*Na madrugada do último domingo, dia 16, quatro jovens saíram de uma festa na localidade de Santa Bárbara, às margens do Rio das Antas em uma Fiat/Fiorino com placas de Teutônia. Na parte da frente do veículo (destinada a passageiros) estavam o motorista, Tiago de Paula, de 18 anos, e um adolescente de 15 anos de idade. No baú traseiro, destinado ao transporte de cargas, estavam Anderson Stiburski, 16 anos, e Danúbio Cruz da Costa, 20 anos. Eles teriam pego carona após emprestar a moto em que estavam para um casal cuja moto, por sua vez, teve problemas mecânicos.
*Por volta das 5h15, a Brigada Militar avistou o veículo em alta velocidade na rua Olavo Bilac, próximo à Cooperativa Vinícola Aurora, no bairro Cidade Alta, e iniciou a perseguição. Segundo os policiais, durante o trajeto, várias ordens para que o veículo parasse foram dadas, todas sem sucesso. A polícia conseguiu encurralar os suspeitos em uma rua não pavimentada no bairro Imigrante.
*Os policiais saíram da viatura para abordar os ocupantes da Fiorino. Segundo a BM, o condutor teria engatado marcha ré e colidido com o carro da guarnição. O motorista alega não ter conseguido subir pela rua e que o veículo teria descido de ré, por acidente.
Os policiais afirmam que foram ouvidos dois disparos de arma de fogo (os ocupantes que sobreviveram rebatem, dizendo que ninguém no carro portava arma). A Fiorino consegue fugir novamente e os policiais revidam os supostos tiros, disparando contra a traseira da caminhonete, que consegue se afastar.
*Os dois policiais que atenderam à ocorrência pedem reforços e várias viaturas da BM começam as buscas pela região. Logo depois, a Fiorino é encontrada em uma casa no bairro Fátima, onde residia um dos ocupantes do carro. Havia marcas de pelo menos 10 tiros na lataria e no vidro. Ao verificarem o veículo, os policiais encontram Anderson e Danúbio mortos na parte traseira, com tiros na cabeça e em outras partes do corpo.
*O motorista da Fiorino foi encontrado ferido no telhado da casa. Ele levou um tiro de raspão na orelha e foi encaminhado para atendimento médico. O adolescente foi localizado no interior da moradia, sem ferimentos.
*Segundo a BM, o local foi isolado até a chegada da perícia, que encontrou um revólver calibre 38 com duas cápsulas deflagradas dentro do compartimento de cargas, embaixo de uma mochila pertencente a uma das vítimas. A arma teria sido usada, segundo a versão da BM, contra os policiais. 
*A Polícia Civil assumiu a investigação do caso, junto com a Corregedoria-geral da Brigada Militar, que abriu Inquérito Policial Militar paralelo para avaliar a conduta dos soldados. Os dois policiais que atenderam a ocorrência foram afastados até o final da investigação e as armas utilizadas por eles – uma pistola .40 e uma espingarda calibre 12 –, recolhidas para análise pericial. 
*Anderson e Danúbio foram sepultados no Cemitério Parque Jardim do Vale na tarde da última segunda-feira, dia 17. Após o enterro, familiares e amigos se reuniram em frente à prefeitura para protestar e conversaram com o prefeito Guilherme Pasin.

Saiba mais:

Jornal SerraNossa - Reportagem: Jonathan Zanotto, Jorge Bronzato Jr. e Greice Scotton

Jovem teria tentado avisar BM de dentro da Fiorino

Jovem teria tentado avisar BM de dentro da FiorinoApós o sepultamento de Anderson Styburski e Danúbio Cruz da Costa, que foram enterrados lado a lado no Cemitério Parque Jardim do Vale, no bairro Santo Antão, parentes e amigos dos dois se reencontraram em frente à prefeitura, onde realizaram um protesto pedindo justiça. De lá, o grupo partiria para a sede das delegacias da Polícia Civil, na esquina das ruas 13 de Maio e Assis Brasil. Entretanto, após uma conversa com o prefeito Guilherme Pasin – que prometeu cobrar agilidade na investigação e acompanhar pessoalmente o caso – não levaram a caminhada adiante.

Durante o encontro no salão nobre da prefeitura, familiares dos dois rapazes mortos voltaram a defender a inocência dos quatro jovens que estavam na Fiorino, alegando que houve excesso na abordagem policial e que a arma que teria sido encontrada no carro não seria de nenhum deles. Outra queixa foi quanto a alterações na cena do crime que teriam sido feitas antes da chegada dos agentes do Instituto Geral de Perícias (IGP) ao local das mortes. “Foi uma covardia o que fizeram, uma chacina. Eles atiraram até de 12 [espingarda calibre 12] de perto, em dois inocentes que nem podiam se defender. E depois mexeram em tudo antes dos peritos”, afirma David Cruz da Costa, irmão de Danúbio.

Ele conta ainda que a última chamada feita pelo telefone do irmão foi para o número 190, o que, para David, significa que Danúbio tentou alertar a polícia de que ele e Anderson estavam no baú da Fiorino. “Eles tentaram avisar que não era para atirar, porque eles ‘tavam’ ali dentro, mas não deu tempo”, lamenta.

O pai de Danúbio, João Luiz Gonçales da Costa, também defendeu o condutor da Fiorino, Tiago de Paula, de 18 anos, que não teria parado após a abordagem policial pelo receio de perder a Habilitação, por ter consumido bebida alcoólica e estar transportando pessoas no compartimento destinado a cargas. “Ele ficou com medo, pois ainda tinha a [CNH] provisória. Eles tinham bebido um pouco, ninguém vai mentir que não, mas não mereciam isso”, diz o pai.

As informações desencontradas sobre o momento em que os disparos dos brigadianos foram efetuados – em uma reação a supostos tiros vindos da Fiorino – também marcaram as manifestações das famílias. “Se eles ainda estavam fugindo, por que os tiros estão todos perto um do outro, bem juntinhos?”, questiona a mãe de Anderson, Iolanda Tavares Silveira.
O local dos tiros
Na tarde da última terça-feira, dia 18, ainda bastante abalado, o adolescente de 15 anos que era caroneiro na Fiorino confirmou o local em que houve o suposto confronto com a BM (foto). Segundo ele, o motorista do veículo não conseguiu subir pela rua  Felice Pagot, no final do bairro Imigrante, e voltou de ré – atingindo a viatura e ficando no sentido oposto ao do carro da polícia, retomando assim a fuga – os brigadianos teriam efetuado os disparos, a curta distância e, na versão do jovem, sem que nenhum outro tiro tenha partido do veículo em que o grupo estava. A reportagem do SERRANOSSA foi até o local e verificou que a referida rua, não asfaltada, possui muitos desníveis, o que dificulta o acesso de veículos. A área é praticamente deserta e pouco iluminada.
Reportagem: Jonathan Zanotto, Jorge Bronzato Jr. e Greice Scotton

terça-feira, 18 de março de 2014

Dois mortos após confronto com a Brigada Militar

Dois mortos após confronto com a Brigada MilitarUma perseguição policial após um veículo Fiorino ter cruzado em alta velocidade por uma viatura de Brigada Militar (BM) acabou com dois mortos em Bento Gonçalves. No carro estavam quatro pessoas – duas na parte da frente, destinada a passageiros, e outras duas atrás, no compartimento de carga. A perseguição começou na rua Olavo Bilac, bairro Cidade Alta, e seguiu pelos bairros Botafogo e Imigrante, terminando por volta das 5h15 deste domingo, dia 16, quando o veículo foi encontrado no pátio de uma residência no bairro Fátima (antigo Santa Helena 4). Durante a ação, os tripulantes teriam atirado contra os policiais, que teriam revidado (versão dada pela BM). A versão não foi confirmada por conhecidos das vítimas, que alegam que eles não tinham armas.

Os mortos foram identificados como Anderson Styburski, 16 anos, e Danúbio Cruz da Costa, 20. Nenhum deles tinha passagens pela polícia, segundo a própria BM. Além deles, cujos corpos foram encontrados no baú do veículo, o motorista (de 18 anos) teve ferimentos e precisou de atendimento médico. O outro tripulante do veículo seria um adolescente de 15 anos de idade, que não se feriu.

Durante a manhã, a área foi isolada para o trabalho de perícia, acompanhado pela Polícia Civil. Houve reforço na segurança em virtude da grande quantidade de curiosos no local. Princípios de confusão foram registrados no local, com pedras sendo atiradas contra as viaturas e revolta popular. Tiros antimotim chegaram a ser disparados para afastar os manifestantes.

A versão oficial da BM foi dada cerca de 10 horas após a ocorrência.