Aconteceu
durante o final da tarde desta quinta-feira, nas dependências do
Hospital de Bento Gonçalves, o ato de translado do Doutor Bartholomeu
Tacchini. Com uma nova ampliação na estrutura física, conforme sempre o
fundador do Hospital desejava antes de morrer em 1936, a memória
continua no interior da instituição que leva o seu nome. Houve
remanejamento dos restos mortais da parte interna do Tacchini, para um
jardim localizado no pátio.
“Nada mais justo que colocar na porta de
entrada. Aqui se preservam raízes”, chegou a dizer Antônio Stringhini,
presidente do Conselho de Administração do Hospital.
Houve
a benção do padre Francisco Andognini, o padre Chico. Compareceram na
solenidade ainda o superintendente do Tacchini, Armando Piletti,
funcionários e colaboradores, além do vereador Clemente Mieznikowski
(PDT).
Um breve histórico de Bartholomeu Tacchini
Contar a história do município de Bento
Gonçalves só é possível quando se destina um capítulo a parte relatando
fatos que resultaram na construção do Hospital Doutor Bartholomeu
Tacchini.
O ano era 1875. Foi quando chegaram à
Serra Gaúcha os primeiros imigrantes italianos. Ao contrário das tantas
promessas feitas na Itália, todos tiveram de recomeçar a vida com
trabalho árduo, desbravando a mata, contando unicamente com a vontade
própria e a fé em Deus.
A saúde de cada pessoa dependia
unicamente dela mesma ou de alguém da comunidade que tinha um pouco mais
de experiência. Alguns sacerdotes acompanhavam os primeiros imigrantes,
garantindo a saúde da alma, mas a saúde do corpo era um grande desafio.
O sofrimento inicial, porém, seria
amenizado a partir de 1912, quando chegou à cidade o médico operador
Bartholomeu Tacchini, depois de passar alguns dias em Pelotas, e a
pedido do cônsul italiano no Estado, seguiu na direção à Serra.
Nascido em 19 de novembro de 1878, na
Sicília, Itália, Tacchini era filho de uma família nobre, com muitas
posses. Após mudar-se para a região de Modena, ele largou todos os bens a
que tinha direito e seguiu ao Brasil para servir os seus conterrâneos,
aliviando a dor física e a saudade de tantas famílias.
Chegando à serra gaúcha, o Doutor
Tacchini passou a trabalhar dia e noite e nenhum doente ficava sem o
devido atendimento. Conta a história, que não existiam empecilhos para
chegar à casa dos doentes, muitas vezes situadas em meio à mata. O
pagamento dos serviços prestados ficava a critério das próprias
famílias. Alguns, lhe pagavam em dinheiro, outros ofertavam produtos da
terra e muitos simplesmente não tinham como pagar e lhe retribuíam com
um 'Muito Obrigado e Deus lhe Pague, Doutor'. O importante para ele era
curar as pessoas.
Relatos dão conta de que em muitas
ocasiões, o doutor Tacchini era chamado de madrugada para percorrer
caminhos tortuosos, sob chuva intensa eu típico frio do inverno gaúcho. O
que mais gratificava o médico era ver as pessoas felizes, sorridentes,
animadas com a vida e com o trabalho.
A ameaça de ir embora - O
maior desafio surgiu diante do não reconhecimento ao seu trabalho e da
falta de condições ideais: faltavam equipamentos, remédios e um local
que realmente pudesse ser considerado um hospital. Tal situação levou o
doutor Tacchini a tomar a decisão mais dura da sua vida.
Percebendo que a vocação de atender os
imigrantes italianos estava ficando cada dia mais comprometida, num raro
momento de descontentamento, resolveu erguer a voz e clamar para a
população: Ou vocês me deem condições de continuar trabalhando aqui, ou
vou me embora para outra cidade, até mesmo para a Itália. A ameaça
rapidamente espalhou-se pela cidade e o desespero tomou conta de todos
os habitantes.
O doutor Bartholomeu Tacchini já tinha
viajado uma vez para a Itália, entre 1916 e 1918, durante a Primeira
Guerra Mundial, quando recebeu o título de Capitão do Exército. Todos
sentiram a sua enorme falta. E agora, ele realmente voltaria em
definitivo para o seu País? O que fazer para evitar que isso
acontecesse?
A mobilização da comunidade -
A solução veio às pressas. A comunidade mobilizou-se intensamente.// Na
Casa Comercial Moré & Cia Ltda, reuniram-se os senhores Giovanni
Dal Molin, Attilio Michelon, Luiz Todeschini, Vittorio Moré e Telêmaco
Ballista para discutir o assunto.
Foi criada , então, uma comissão, a fim
de convencer o doutor Tacchini a ficar no município, prometendo a ele
que seria construído um hospital, a fim de que pudesse desenvolver o seu
trabalho de maneira plena. O nobre e humilde doutor, mais uma vez,
deixou-se levar pelo seu grande coração. Nunca soube dizer Não. Depois
de ouvir os apelos, afirmou que retornaria a Bento Gonçalves se a
promessa fosse cumprida.
O trabalho da comissão iniciou
imediatamente. As famílias da comunidade começaram a ser visitadas.
Diante dos argumentos expostos, que alertavam para o grande perigo do
Doutor Tacchini abandonar definitivamente o município, ninguém tinha
coragem de negar algum tipo de ajuda para construir o hospital. No
primeiro dia de recolhimento de donativos junto à população, foi obtida a
quantia de 104 Contos de Réis, a moeda da época. Era muito dinheiro, o
que demonstrava que o Doutor Tacchini era um verdadeiro líder, uma
pessoa admirada por todos.
A união de todos os setores da
comunidade para a construção do hospital foi fantástica. No dia 20 de
setembro de 1924, antes mesmo do início dos trabalhos, aconteceu a
fundação do Hospital Dr. Bartholomeu Tacchini. No dia 19 de novembro de
1924, dia do aniversário do Dr. Tacchini, foi realizada uma missa campal
e uma quermesse no terreno onde seria construído o hospital. A compra
da área de terra foi rápida. Foi um dos momentos mais importantes da
história do município.
Finalmente, chega o ano de 1927. Os trabalhos haviam sido concluídos no dia 13 de março.
O doutor Tacchini estava em Bento
Gonçalves, esperando o momento de ser conduzido por uma grande multidão
até o seu novo local de trabalho. A comemoração era intensa. Moradores
da cidade e do interior se aglomeravam nas ruas, à espera da inauguração
do hospital tão desejado por todos. Tudo pronto para uma nova missa
campal, com a presença da Banda Carlos Gomes. O povo foi lá, na antiga
residência do doutor Tacchini, na Casa de Saúde Regina Margherita,
buscar o homenageado.
No ano de 1929, o Dr. Tacchini resolve
ir em busca de equipamentos modernos, visando aprimorar os trabalhos no
Hospital. Viaja então para a Itália, onde a medicina se encontrava em
num estágio bem mais avançado, assim como a tecnologia.
Em 1930, quando retorna a Bento
Gonçalves, o grande doutor é recebido com outra festa monumental, junto à
Estação Ferroviária. Neste mesmo ano, para ajudar nos trabalhos, vem da
Itália o seu sobrinho, o doutor Walter Galassi, um homem que também
tinha uma grande admiração pelas pessoas, fossem elas ricas ou pobres.
Em 1932, os doutores Ludovico Barbieri, Carlo Cini e Walter Galassi
recebem o título de sócios-beneméritos do Hospital Tacchini.
No ano de 1934, constata-se a
necessidade de construir mais um pavilhão. O número de pacientes
aumentou consideravelmente. As pessoas doentes vinham de toda região,
sabedoras da eficácia e da bondade do Dr. Tacchini.
A pior notícia - Chega o
ano de 1936. No mês de março, foi inaugurado o novo pavilhão do
hospital, que recebeu o nome de Dr. Walter Galassi. Oito meses depois, a
notícia que ninguém esperava. No dia 18 de novembro, um telegrama chega
ao povo de Bento Gonçalves informando o falecimento do Dr. Tacchini,
vítima de um câncer na laringe. Com apenas 58 anos de idade, partia para
a eternidade um homem que viveu intensamente o maior mandamento da lei
de Deus: amar o próximo como a si mesmo. Certamente ele foi acolhido com
muita alegria na Vida Eterna, pois passou a vida toda praticando o bem,
a justiça e a solidariedade humana.
Pouco antes de viajar a São Paulo, a fim
de submeter-se a um intenso tratamento da doença, o doutor Tacchini já
havia previsto a sua morte. Ao seu amigo Telêmaco Ballista, escreveu em
um pequeno bilhete: '- Não voltarei vivo a Bento Gonçalves'. Já em outra
oportunidade, manifestou o desejo de ser enterrado no pátio do Hospital
ou no cemitério dos pobres.
O corpo do doutor Tacchini foi colocado
num mausoléu, junto à Capela do hospital, e posteriormente foi
transladado para o pátio do hospital. Durante muitos anos o corpo
embalsamado ficou exposto para a visitação de todo o povo da região. As
pessoas não cansavam de rezar e agradecer por todas as boas obras
praticadas por este homem que saiu de meio da riqueza, na Itália, e veio
para o Brasil com um único objetivo: ajudar a salvar vidas, de todas as
pessoas, sem nenhum distinção de raça ou de classe social.
O doutor Tacchini não constituiu
família. O amor que tinha por esta terra e pelas pessoas em geral era
tão grande que depois da sua morte a população foi novamente
surpreendida por um ato do seu irmão, o comandante Pietro Tacchini.
Em visita a Bento Gonçalves, onde
recebeu calorosos agradecimentos pelo fato de deixar o corpo do seu
irmão ser sepultado, o comandante Pietro Tacchini fez uma doação de 50
Contos de Réis ao Hospital, e de 3 Contos de Réis para a Capela que
tinha sido construída dentro do Hospital. Esta doação representava um
grande volume de dinheiro. Segundo o comandante, a quantia foi entregue
devido a um pedido do próprio doutor Bartholomeu Tacchini, feito a ele
poucos dias antes de morrer.
Na frase colocada sobre o seu túmulo
encontra-se o maior elogio que pode ser feito a um homem honesto,
humilde, acolhedor e competente, cujo coração só sabia fazer o bem ao
próximo. A frase diz: 'Dr. Bartholomeu Tacchini nunca transformou as
infatigáveis atividades profissionais em avidez de lucro. Fez ele
próprio o mais belo elogio da vida'.
Fonte: Felipe Machado, com informações da Assessoria de Imprensa do Tacchini
Fotos: Felipe Machado
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