sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Memória de Bartholomeu Tacchini recebe local de destaque no Hospital de Bento

Aconteceu durante o final da tarde desta quinta-feira, nas dependências do Hospital de Bento Gonçalves, o ato de translado do Doutor Bartholomeu Tacchini. Com uma nova ampliação na estrutura física, conforme sempre o fundador do Hospital desejava antes de morrer em 1936, a memória continua no interior da instituição que leva o seu nome. Houve remanejamento dos restos mortais da parte interna do Tacchini, para um jardim localizado no pátio.
 
“Nada mais justo que colocar na porta de entrada. Aqui se preservam raízes”, chegou a dizer Antônio Stringhini, presidente do Conselho de Administração do Hospital.
 
Houve a benção do padre Francisco Andognini, o padre Chico. Compareceram na solenidade ainda o superintendente do Tacchini, Armando Piletti, funcionários e colaboradores, além do vereador Clemente Mieznikowski (PDT).
 
Um breve histórico de Bartholomeu Tacchini
 
Contar a história do município de Bento Gonçalves só é possível quando se destina um capítulo a parte relatando fatos que resultaram na construção do Hospital Doutor Bartholomeu Tacchini.
 
O ano era 1875. Foi quando chegaram à Serra Gaúcha os primeiros imigrantes italianos. Ao contrário das tantas promessas feitas na Itália, todos tiveram de recomeçar a vida com trabalho árduo, desbravando a mata, contando unicamente com a vontade própria e a fé em Deus.
 
A saúde de cada pessoa dependia unicamente dela mesma ou de alguém da comunidade que tinha um pouco mais de experiência. Alguns sacerdotes acompanhavam os primeiros imigrantes, garantindo a saúde da alma, mas a saúde do corpo era um grande desafio.
 
O sofrimento inicial, porém, seria amenizado a partir de 1912, quando chegou à cidade o médico operador Bartholomeu Tacchini, depois de passar alguns dias em Pelotas, e a pedido do cônsul italiano no Estado, seguiu na direção à Serra.
 
Nascido em 19 de novembro de 1878, na Sicília, Itália, Tacchini era filho de uma família nobre, com muitas posses. Após mudar-se para a região de Modena, ele largou todos os bens a que tinha direito e seguiu ao Brasil para servir os seus conterrâneos, aliviando a dor física e a saudade de tantas famílias.
 
Chegando à serra gaúcha, o Doutor Tacchini passou a trabalhar dia e noite e nenhum doente ficava sem o devido atendimento. Conta a história, que não existiam empecilhos para chegar à casa dos doentes, muitas vezes situadas em meio à mata. O pagamento dos serviços prestados ficava a critério das próprias famílias. Alguns, lhe pagavam em dinheiro, outros ofertavam produtos da terra e muitos simplesmente não tinham como pagar e lhe retribuíam com um 'Muito Obrigado e Deus lhe Pague, Doutor'. O importante para ele era curar as pessoas.
 
Relatos dão conta de que em muitas ocasiões, o doutor Tacchini era chamado de madrugada para percorrer caminhos tortuosos, sob chuva intensa eu típico frio do inverno gaúcho. O que mais gratificava o médico era ver as pessoas felizes, sorridentes, animadas com a vida e com o trabalho.
 
A ameaça de ir embora - O maior desafio surgiu diante do não reconhecimento ao seu trabalho e da falta de condições ideais: faltavam equipamentos, remédios e um local que realmente pudesse ser considerado um hospital. Tal situação levou o doutor Tacchini a tomar a decisão mais dura da sua vida.
 
Percebendo que a vocação de atender os imigrantes italianos estava ficando cada dia mais comprometida, num raro momento de descontentamento, resolveu erguer a voz e clamar para a população: Ou vocês me deem condições de continuar trabalhando aqui, ou vou me embora para outra cidade, até mesmo para a Itália. A ameaça rapidamente espalhou-se pela cidade e o desespero tomou conta de todos os habitantes.
 
O doutor Bartholomeu Tacchini já tinha viajado uma vez para a Itália, entre 1916 e 1918, durante a Primeira Guerra Mundial, quando recebeu o título de Capitão do Exército. Todos sentiram a sua enorme falta. E agora, ele realmente voltaria em definitivo para o seu País? O que fazer para evitar que isso acontecesse?
 
A mobilização da comunidade - A solução veio às pressas. A comunidade mobilizou-se intensamente.// Na Casa Comercial Moré & Cia Ltda, reuniram-se os senhores Giovanni Dal Molin, Attilio Michelon, Luiz Todeschini, Vittorio Moré e Telêmaco Ballista para discutir o assunto.
 
Foi criada , então, uma comissão, a fim de convencer o doutor Tacchini a ficar no município, prometendo a ele que seria construído um hospital, a fim de que pudesse desenvolver o seu trabalho de maneira plena. O nobre e humilde doutor, mais uma vez, deixou-se levar pelo seu grande coração. Nunca soube dizer Não. Depois de ouvir os apelos, afirmou que retornaria a Bento Gonçalves se a promessa fosse cumprida.
 
O trabalho da comissão iniciou imediatamente. As famílias da comunidade começaram a ser visitadas. Diante dos argumentos expostos, que alertavam para o grande perigo do Doutor Tacchini abandonar definitivamente o município, ninguém tinha coragem de negar algum tipo de ajuda para construir o hospital. No primeiro dia de recolhimento de donativos junto à população, foi obtida a quantia de 104 Contos de Réis, a moeda da época. Era muito dinheiro, o que demonstrava que o Doutor Tacchini era um verdadeiro líder, uma pessoa admirada por todos.
 
A união de todos os setores da comunidade para a construção do hospital foi fantástica. No dia 20 de setembro de 1924, antes mesmo do início dos trabalhos, aconteceu a fundação do Hospital Dr. Bartholomeu Tacchini. No dia 19 de novembro de 1924, dia do aniversário do Dr. Tacchini, foi realizada uma missa campal e uma quermesse no terreno onde seria construído o hospital. A compra da área de terra foi rápida. Foi um dos momentos mais importantes da história do município.
Finalmente, chega o ano de 1927. Os trabalhos haviam sido concluídos no dia 13 de março.
 
O doutor Tacchini estava em Bento Gonçalves, esperando o momento de ser conduzido por uma grande multidão até o seu novo local de trabalho. A comemoração era intensa. Moradores da cidade e do interior se aglomeravam nas ruas, à espera da inauguração do hospital tão desejado por todos. Tudo pronto para uma nova missa campal, com a presença da Banda Carlos Gomes. O povo foi lá, na antiga residência do doutor Tacchini, na Casa de Saúde Regina Margherita, buscar o homenageado.
 
No ano de 1929, o Dr. Tacchini resolve ir em busca de equipamentos modernos, visando aprimorar os trabalhos no Hospital. Viaja então para a Itália, onde a medicina se encontrava em num estágio bem mais avançado, assim como a tecnologia.
 
Em 1930, quando retorna a Bento Gonçalves, o grande doutor é recebido com outra festa monumental, junto à Estação Ferroviária. Neste mesmo ano, para ajudar nos trabalhos, vem da Itália o seu sobrinho, o doutor Walter Galassi, um homem que também tinha uma grande admiração pelas pessoas, fossem elas ricas ou pobres. Em 1932, os doutores Ludovico Barbieri, Carlo Cini e Walter Galassi recebem o título de sócios-beneméritos do Hospital Tacchini.
 
No ano de 1934, constata-se a necessidade de construir mais um pavilhão. O número de pacientes aumentou consideravelmente. As pessoas doentes vinham de toda região, sabedoras da eficácia e da bondade do Dr. Tacchini.
 
A pior notícia - Chega o ano de 1936. No mês de março, foi inaugurado o novo pavilhão do hospital, que recebeu o nome de Dr. Walter Galassi. Oito meses depois, a notícia que ninguém esperava. No dia 18 de novembro, um telegrama chega ao povo de Bento Gonçalves informando o falecimento do Dr. Tacchini, vítima de um câncer na laringe. Com apenas 58 anos de idade, partia para a eternidade um homem que viveu intensamente o maior mandamento da lei de Deus: amar o próximo como a si mesmo. Certamente ele foi acolhido com muita alegria na Vida Eterna, pois passou a vida toda praticando o bem, a justiça e a solidariedade humana.
 
Pouco antes de viajar a São Paulo, a fim de submeter-se a um intenso tratamento da doença, o doutor Tacchini já havia previsto a sua morte. Ao seu amigo Telêmaco Ballista, escreveu em um pequeno bilhete: '- Não voltarei vivo a Bento Gonçalves'. Já em outra oportunidade, manifestou o desejo de ser enterrado no pátio do Hospital ou no cemitério dos pobres.
 
O corpo do doutor Tacchini foi colocado num mausoléu, junto à Capela do hospital, e posteriormente foi transladado para o pátio do hospital. Durante muitos anos o corpo embalsamado ficou exposto para a visitação de todo o povo da região. As pessoas não cansavam de rezar e agradecer por todas as boas obras praticadas por este homem que saiu de meio da riqueza, na Itália, e veio para o Brasil com um único objetivo: ajudar a salvar vidas, de todas as pessoas, sem nenhum distinção de raça ou de classe social.
 
O doutor Tacchini não constituiu família. O amor que tinha por esta terra e pelas pessoas em geral era tão grande que depois da sua morte a população foi novamente surpreendida por um ato do seu irmão, o comandante Pietro Tacchini.
 
Em visita a Bento Gonçalves, onde recebeu calorosos agradecimentos pelo fato de deixar o corpo do seu irmão ser sepultado, o comandante Pietro Tacchini fez uma doação de 50 Contos de Réis ao Hospital, e de 3 Contos de Réis para a Capela que tinha sido construída dentro do Hospital. Esta doação representava um grande volume de dinheiro. Segundo o comandante, a quantia foi entregue devido a um pedido do próprio doutor Bartholomeu Tacchini, feito a ele poucos dias antes de morrer.
 
Na frase colocada sobre o seu túmulo encontra-se o maior elogio que pode ser feito a um homem honesto, humilde, acolhedor e competente, cujo coração só sabia fazer o bem ao próximo. A frase diz: 'Dr. Bartholomeu Tacchini nunca transformou as infatigáveis atividades profissionais em avidez de lucro. Fez ele próprio o mais belo elogio da vida'.
 
  
Fonte: Felipe Machado, com informações da Assessoria de Imprensa do Tacchini
 
Fotos: Felipe Machado

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