País "caminha lentamente" rumo à solução do problema, aponta relatório
Dos 36 milhões de adultos analfabetos na América Latina, 38,5% são
brasileiros. São cerca de 14 milhões de pessoas num país que abriga
34,2% da população latino-americana. O dado levantado entre 2005 e 2011
consta do relatório Educação Para Todos, divulgado nesta quarta-feira
pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (Unesco). Publicado anualmente, o relatório sintetiza
indicadores da educação em mais de 160 países, observando seis metas
estabelecidas em 2000, no Fórum Mundial de Educação, em Dacar (confira no quatro abaixo).
Metas da Unesco para 2015
Meta 1Expandir e aprimorar a educação e os cuidados com a primeira infância, especialmente para as crianças mais vulneráveis e desfavorecidas
Meta 2
Garantir que todas as crianças, especialmente meninas, crianças em situações difíceis e pertencentes a minorias étnicas, tenham acesso a uma educação primária de boa qualidade, gratuita e obrigatória, além da possibilidade de completá-la
Meta 3
Assegurar que as necessidades de aprendizagem de todos os jovens e adultos sejam satisfeitas mediante o acesso à aprendizagem apropriada e a programas de capacitação para a vida
Meta 4
Atingir 50% de melhoria nos níveis de alfabetização de adultos, especialmente para as mulheres, e igualdade de acesso à educação fundamental e permanente para todos os adultos
Meta 5
Atingir a igualdade de gêneros na educação, concentrando esforços para garantir que as meninas tenham pleno acesso, em igualdade de condições, à educação fundamental de boa qualidade e que consigam completá-la
Meta 6
Melhorar todos os aspectos da qualidade da educação e assegurar a excelência de todos, de modo que resultados de aprendizagem reconhecidos e mensuráveis sejam alcançados por todos, especialmente em alfabetização, cálculo e habilidades essenciais para a vida.
Além de desabonador para o Brasil, o resultado do levantamento não é
animador para o restante do mundo: atualmente, 774 milhões de adultos
são analfabetos e cerca 57 milhões de crianças estão fora da escola
primária. Diante desses números, a Unesco afirma que nenhum dos países
vai alcançar as seis metas até 2015, prazo definido para erradicar o
analfabetismo e garantir acesso a escolas de qualidade para crianças e
jovens.
Há, é claro, diferenças entre as nações. No quesito combate ao
analfabetismo, Finlândia, Estados Unidos e França já atingiram o
objetivo, mas ainda caminham para garantir que 95% das crianças estejam
no ensino fundamental em 2015. Já o Brasil figura no grupo que "caminha
lentamente", segundo a própria Unesco, para reverter a situação dos
adultos analfabetos, com chances de atingir 80% da meta no prazo.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) coletados em 2012 mostram que a taxa de analfabetismo da população com 15 anos ou mais teve leve alta entre 2011 e 2012, passando de 8,6% para 8,7%, longe de cumprir a meta firmada na ONU de 6,7% até 2015. A pesquisa apontou que o país tinha 13,2 milhões de habitantes analfabetos. A variação no número de iletrados se explica pela diferença entre as metodologias: enquanto a Pnad traz uma amostra de dados coletados em visitas trimestrais às casas dos brasileiros dentro de um ano, a Unesco se baseia nos bancos de dados disponíveis entre 2005 e 2011.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) coletados em 2012 mostram que a taxa de analfabetismo da população com 15 anos ou mais teve leve alta entre 2011 e 2012, passando de 8,6% para 8,7%, longe de cumprir a meta firmada na ONU de 6,7% até 2015. A pesquisa apontou que o país tinha 13,2 milhões de habitantes analfabetos. A variação no número de iletrados se explica pela diferença entre as metodologias: enquanto a Pnad traz uma amostra de dados coletados em visitas trimestrais às casas dos brasileiros dentro de um ano, a Unesco se baseia nos bancos de dados disponíveis entre 2005 e 2011.
Garantir a qualidade do ensino é, segundo a Unesco, o principal
desafio, uma vez que políticas para assegurar o acesso têm sido cada vez
mais eficientes em colocar crianças de setores mais vulneráveis na
escola. "Quando falamos de qualidade da educação, não nos referimos
apenas a países pobres, mas também aos ricos como Austrália e Nova
Zelândia", diz a diretora do relatório, Pauline Rose.
Para a especialista, uma das principais explicações para a
contradição entre o avanço na economia nacional e o baixo nível do
ensino brasileiro está na dificuldade de direcionar recursos e bons
professores para as regiões mais necessitadas, como os Estados das
regiões Norte e Nordeste. "Isso se nota pelo grande número de adultos
analfabetos, herança de gestões passadas, e que se acumulam em grande
parte na zona rural e nas favelas."
O estudo comparou a situação de brasileiros de 15 anos: de um lado,
os jovens pobres da zona rural; do outro, os de famílias mais abastadas
das cidades. Entre os primeiros, apenas 9% devem alcançar os padrões
mínimos de aprendizagem; no segundo grupo, a taxa é de 55%. Pauline
destaca que, apesar de o Brasil não alcançar os objetivos para 2015, a
Unesco tem uma visão otimista sobre o país: "É claro que existem
problemas, mas identificamos que o Brasil reconhece esses problemas e
tem implementado políticas para reverter essa situação."
O relatório destaca ações que levaram à melhoria da situação no
Brasil. É o caso de políticas que dão prioridade à população mais pobre,
como o Bolsa Família, além de políticas de bonificação de professores,
identificadas como responsáveis pelos avanços no acesso e na qualidade
nas escolas.